O e-learning corporativo e a interatividade

O e-learning corporativo e a interatividade
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O que é mais efetivo na produção de um curso e-learning?

Essa é uma pergunta que tenho ouvido ultimamente e isso me despertou para uma observação mais atenta nos projetos que acompanho. Um dos temas mais recorrentes nas reuniões de briefing e também nas negociações comerciais envolvendo os projetos de e-learning é a famosa interatividade.

Andragogia e os mil cliques

Nos últimos anos, especialmente na última década, a andragogia “entrou na dança” e virou o centro das atenções na educação corporativa. Com ela, muitos RH’s e empresas fornecedoras de soluções para e-learning corporativo justificam uma tal “necessidade” de se criar cursos cheios de clique aqui, clique ali, arraste isso, arraste aquilo, alegando que essa interatividade vai garantir o engajamento dos aprendedores na ferramenta e-learning. Será?

Se resgatarmos rapidamente o conceito, vamos descobrir que a Andragogia está centrada na educação de adultos e que sua premissa fundamental é uma aprendizagem contextualizada e de acordo com as necessidades do ambiente em que aqueles adultos estão inseridos. Se falamos de uma empresa, a linguagem e o ambiente educacional precisam representar o contexto do colaborador e o projeto deve visar o atingimento de uma meta específica, como o ganho ou aperfeiçoamento de uma competência por exemplo.

Heutagogia e a escolha do indivíduo

Se andarmos um pouco mais no tempo, descobriremos que hoje, já há outra teoria entrando na cena e que avança um pouco mais nesse conceito da aprendizagem do adulto. A heutagogia questiona a andragogia quando pergunta “Como é possível aprender a aprender em um tempo de tanta agilidade nas mudanças?”. E aponta para uma resposta quando localiza, na autodireção do aprendedor, a chave para uma aprendizagem com foco nas melhores experiências. Ou seja, o indivíduo, com canais diversos e mediação especializada, vai filtrar as opções conforme suas demandas, interesses e exigências externas e construir as experiências de aprendizagem mais enriquecedoras.

Alguns especialistas afirmam que esse “passo a mais” proposto pela heutagogia é importante quando concede autonomia aos aprendedores. Eles podem se valer de inúmeras fontes – acrescente-se aqui a diversidade de canais e ambientes proporcionados pela tecnologia – e determinar o que é interessante e relevante dentro da perspectiva do autodesenvolvimento. Por essa perspectiva, o trabalho de educação corporativa seria fundamental para oferecer o maior número de canais e ferramentas ao colaborador.

Lendo e relendo essas afirmações, fica claro para mim que não se diz muito sobre a forma. E não vejo as razões pelas quais ela se tornou tão central na discussão sobre o e-learning corporativo. Se consideramos que a aprendizagem é o fim maior e que ela é caótica, randômica e não linear, não podemos acreditar ou supor que o engajamento acontecerá porque o curso tem muita interatividade. Aliás, em tempos de tanta correria, muitas pessoas desistem de acessar os conteúdos de muitos cursos e-learning exatamente porque são chamados a clicar em tantas coisas e o propósito se perde.

Motivação ou Reação?

É hora de começar a investir no desejo/motivação do aprendedor e oferecer outras alavancas que reforcem a aprendizagem real e de valor. Experiências formais e informais enriquecem a aprendizagem e isso não é diferente com o e-learning. É possível construir cursos de layout agradável, sem tantas distrações, investindo mais em como o conteúdo irá afetar aquele aprendedor, tanto na sua abordagem, quanto nas derivações experimentais que ele irá acrescentar. Já vi cursos que propõem estender discussões para grupos fora daquela estrutura, que fazem links com informações da realidade e que importam à rotina do aprendedor, outros que propõem engajamento em redes sociais ou que, de forma mais simples, agregam ferramentas que o aprendedor passa a conhecer e pode aplicar na sua rotina.

E antes de qualquer coisa, é preciso que os profissionais envolvidos entendam que há uma grande diferença entre interatividade e interação. Muitos pensam que a interatividade proposta nos cursos é efetiva porque confundem o sentido prático. Ela não produz interação e sim reação. Ao criar diversos pontos para que o aprendedor clique, você estará criando diversas “obrigações” para ele. Isso pode ser positivo, dependendo do contexto e da proposta, mas já sabemos que as pessoas se cansam rapidamente dessa dinâmica, especialmente diante da própria dinâmica de trabalho que enfrentam.

Quero deixar alguns questionamentos para que todos possamos buscar respostas: É possível criar ou incentivar a interação social por meio do e-learning corporativo?

Não será mais produtivo e coerente reforçar a aprendizagem pelo desejo de ter determinado conhecimento ou experiência, associada a outras ações diferentes dessa “interatividade de mil cliques”?

Opine aqui!

Até o próximo!

Ubirajara Neiva

Gestor de Relacionamento

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Comentários

  1. Ubirajara, concordo plenamente com você! Fiz minha graduação e pós graduação on line. Aprendi muito na graduação, me apaixonei pela profissão que hoje exerço, contudo, na pós graduação eram tantos cliques e tanto material desorganizado que, além de não ter aprendido o que realmente me interessava, cansou-me muito a falta de sistematização do curso e o fato dos conteúdos estarem dispersos a mil cliques. Detestei. Hoje faço outra pós, também à distância, mas felizmente o curso está bem estruturado, com menos cliques e mais conteúdos, que é o que realmente me interessa.

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