Entrevista: Guilherme Françoso fala sobre o 70:20:10 na prática

Entrevista: Guilherme Françoso fala sobre o 70:20:10 na prática
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Hoje, para falar sobre o método 70:20:10, contamos com a participação de Guilherme Françoso, Psicólogo especializado em Gestão de Pessoas com Foco em Competências pela ESPM e Pós Graduado em Administração de RH pela FGV SP e atual sócio da BR Talent para programas de Desenvolvimento Organizacional e de Liderança.

Treina+: Como vocês estruturam programas de educação corporativa baseados no modelo 70:20:10? É realizado algum diagnóstico?

Guilherme Françoso: Os modelos de aprendizagem baseados no 70/20/10 dependem de um profundo entendimento da realidade do negócio do cliente e de seus principais desafios. Assim, se faz essencial compreender que comportamentos precisam mudar, quem valida essa mudança e qual indicador afere esse resultado. Isso só é possível com base em um bom diagnóstico.

Treina+: Na sua empresa, houve ou ainda há resistência quanto à aplicação desse método?

Guilherme Françoso: Somos um consultoria em recursos humanos que tem como missão apoiar as organizações no design instrucional de seus programas de desenvolvimento. O 70/20/10 é parte de nossas metodologias base, juntamente com a Andragogia, o Pipeline de Liderança e o 6Ds. Todas as nossas soluções são permeadas, de uma maneira ou de outra, com esses conceitos. Não é comum enfrentarmos resistências com relação a esse modelo, até porque ele está diretamente conectado com a obtenção de resultados tangíveis para o negócio de nossos clientes. Um dos desafios é a dificuldade de lidar com gerações formadas por modelos de aprendizagem diferentes. A chamada “geração Y”, por exemplo, está mais familiarizada com as novas abordagens, mas em geral as preferências ainda estão voltadas para a aprendizagem em sala de aula, em especial no caso das gerações anteriores. Em um bom número de empresas não há estratégias definidas e esse respeito. Tudo depende do público alvo. Em geral, as pessoas gostam de cursos e treinamentos formais e dos materiais didáticos. Um outro ponto relevante é que a pressão por resultados de curto prazo é um obstáculo à utilização do conceito 70 : 20 : 10, que evidentemente requer um tempo de maturação que vai além do imediatismo.

Treina+: Como vocês geram dados a partir desse método para dar sustentação à sua aplicação na empresa?

Guilherme Françoso: Como mencionei anteriormente, o 70/20/10 depende de um bom diagnóstico. Nesse momento é definido o indicador que validará os resultados de treinamento. Essa escolha é feita a quatro mãos, juntamente com o RH e requisitante ou cliente interno. Isso garante que possamos medir a performance das pessoas antes e depois de passarem pelo treinamento, oferecendo assim uma forma transparente de entrega de resultados e melhoria de performance das pessoas.

Treina+: Você acredita que é possível uma solução educacional formal como um curso e-learning, por exemplo, abranger mais do que os 10% das soluções formais previstas no método? Pode citar algum exemplo?

Guilherme Françoso: Sem dúvida! É o que costumamos chamar de blended learning. Ou seja, um modelo de aprendizagem com etapas online e offline. Uma forma de incluir esses elementos no e-learning é atribuindo tarefas de preparação (antes do treinamento) ou de transferência do conhecimento (após o treinamento) que exijam a interação dos participantes no ambiente profissional. Grupos de discussão de melhores práticas, entrevistas com pares e superiores, grupos de análise e solução de problemas, leitura e discussão em grupo de capítulos de bibliografias são bons exemplos dessas atividades.

Treina+: Pode compartilhar algum case na sua empresa que tenha sido desenhado e executado usando o método?

Guilherme Françoso: Temos um cliente do segmento de TI que cresceu muito nos últimos anos. Como os fundadores da empresa estão à frente do negócio desde o começo, habituaram-se a tomar todas as decisões. Com o passar do tempo (e o crescimento da empresa, que hoje conta com mais de 300 profissionais) isso sobrecarregou os sócios e tornou a liderança logo abaixo deles pouco ativa nas tomadas de decisões estratégicas. Assim, um das ações de preparação foi incluir etapas em que esses gestores se reunissem com os sócios para compartilhar informações do planejamento, metas e resultados da organização. Além disso, sugerimos a implantação de um modelo de avaliação de desempenho com sessões de feedback. Isso ampliou a visão de negócio, autonomia e capacidade de análise e tomada de decisão desses profissionais.

Treina+: Pela sua experiência, você acredita que o método 70:20:10 é viável para aplicação em qualquer empresa?

Guilherme Françoso: Sim. Acredito que pode ser aplicado em qualquer contexto, uma vez que prevê aprendizagem no dia a dia.

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